Profissão Ingrata

Ser pedagoga é foda, meu irmão. FO-DA. Você faz uma faculdade difícil e complexa, na qual você não precisa decorar fórmulas e mexer com defuntos pra decorar nome de músculo, mas tem que ler e escrever enlouquecidamente e ser capaz de adivinhar o pensamento do mestre. Mas malandro fala que Pedagogia é a faculdade mais fácil. Vai vendo.



Você, dentro da faculdade, se apaixona pela educação pública. Se apaixona pelo processo ensino-aprendizagem e suas complexidades. Decide que é isso o que você quer da vida, mesmo vendo o miserê das escolas que visita no estágio. Sangue jovem, vitalidade fervendo, seu alimento é o sorriso e abraço das crianças pobres.

Aí você faz concurso pra pedagoga: orientadora. Eu já sou professora regente, vai ser fácil ter aceitação junto aos professores. Primeira paulada na moleira. Não importa se você passou a noite em claro lendo, comparando textos, destacando possíveis pontos polêmicos para se antecipar às discussões ou se catou de última hora um texto do Paulo Freire no Google e grampeou uma balinha nele.. Tudo o que você tem de retorno são reviradas de olhos, cutucadas e risinhos cínicos.

Você tenta entender o lado do professor regente que você orienta, porque trabalhar na escola pública precarizada, com alunos marcados pela violência realmente é pedreira. Então veste a camisa e defende o camarada junto à direção: segunda paulada na moleira. Direções autoritárias e professores descomprometidos se merecem. É tipo aquela história antiga de que "em briga de marido e mulher ninguém mete a colher", tá ligado? Os dois lados despejam todo o ódio no seu ouvido e você tenta filtrar e ponderar equilibradamente; porém quando estão cara a cara, são só amores e você fica mal.

Você tenta levar estudos interessantes e necessários para os momentos de estudo: é demagoga. Você tenta atender à demanda diária: vira leão de chácara, psicóloga, babá, tudo menos orientadora. E não importa o que você tente fazer: você não faz nada e tem mais é que se ferrar.

Quando você faz pedagogia, tem que ter um mega preparo emocional para lidar com a ingratidão e a rejeição. Eu falo todo dia pra mim mesma: Eu não vou me deixar atingir por isso! Porém, cara, aqui dentro tem uma alma, um coração, tem vísceras! Não tem espuma de bichinho de pelúcia não! Quando eu vejo gente tendo atitudes deliberadamente para me atingir meu cérebro sabe que não posso levar para o pessoal, mas minhas vísceras se contorcem por dentro e eu sinto vontade de jogar a toalha. Molhada na cara da pessoa.

Nem vou me estender falando do desrespeito vindo do poder público. Se eu pensar nisso vou realmente ficar doente. Os políticos querem mais é que a gente se foda. O judiciário é vendido. Não temos pra onde correr. Aliás, temos sim, três opções: radicalizar e botar fogo na porra toda, nos conformarmos e continuar (tentando) trabalhar do jeito que está ou mudar de profissão. Ainda nem sei onde me encontro.

Mesmo assim eu amo a educação, de verdade. Se você está na mesma que eu, toca aqui. Me dá aqui um abraço e vamos que vamos. Não se sinta mal por se sentir mal de vez em quando. Acho que é impossível construir uma parede em volta da gente pra nunca ser atingida. A gente se fere, se cansa. Só não vale adoecer. Se esse "sentir mal" está realmente te machucando por dentro, procure ajuda. Se trate, descanse um pouco. Se quiser conversar e não tiver com quem, estou aqui.

Se identificou? Comente aqui embaixo como você está se sentindo ultimamente com a profissão e compartilhe com seus amigos nas redes sociais! Curta a página Pedagogia Sem Clichês no Facebook e fique por dentro do nosso conteúdo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Dois pesos, duas medidas

Blog de utilidade pública - Incompetência Istmo-cervical

Reforma, gripe e fim de ano.