Minha história de tentativas


Bom dia! Vim aqui para explicar um pouco sobre minha vida de tentante e tentar me fazer entender sobre minha atual decisão.

Eu não me lembro quando eu decidi ser mãe. Eu sei que isso não ficava na minha cabeça na infância nem adolescência. Eu era uma menina que vivia a vida de forma tão tranquila... não era namoradeira, eu não queria beijar todos: queria beijar, e sempre. Pra mim não era vantagem ter vários ficantes, porque assim eu correria o risco de ficar sozinha. Eu queria alguém. E digo, sem vergonha (porque isso hoje em dia parece abominável), que, antes do Alan beijei 4 garotos. Eu só queria encontrar alguém que eu amasse e que me amasse de verdade.

Ao mesmo tempo que eu comecei a namorar o Alan, de 16 para 17 anos de idade, começamos a investigar minha amenorreia primária, então ouvi o que eu temia. Se eu não menstruava era porque não ovulava. Sem ovular, sem filhos. Acho que minha obsessão começou aí. Me lembro de uma conversa com o Alan no portão do meu prédio, pensava que devia ser honesta pra ele, que seria difícil ter filhos. Ele, como sempre, me apoiou e nunca cogitou a hipótese disto ser um empecilho para o nosso amor.

Comecei a me tratar no setor de endocrinologia de um hospital universitário, e eles me disseram que depois de me casar e decidir ter filhos, eu seria encaminhada ao setor de esterilidade. E foi isso o que eu fiz. Me casei aos 21 anos e decidimos tentar engravidar depois que eu terminasse a faculdade, 2 anos depois. Não posso dizer que não curtimos a vida neste tempo, saímos, viajamos, nos aproveitamos um ao outro.

Então eu terminei a faculdade e comecei a tentar engravidar pela primeira vez. Foi um período doloroso de 2 anos, com exames invasivos, frustrações, lágrimas. Até que consegui. Com todos os poréns, consegui realizar meu sonho. Ter nosso filho, nosso amor.

No primeiro ano de vida do Mateus, pensei em não ter mais filhos, por causa do meu problema no colo do útero. Não queria correr o risco de ter outro parto prematuro, além de precisar dar atenção constante ao Mateus por causa de suas sequelas.

Quando ele cresceu um pouquinho, comecei a ter vontade de engravidar outra vez. Com dúvidas, claro. Mateus precisava fazer fono, fisio, ir a médicos e precisava de toda a atenção. Mas eu queria. Só não tentei de novo porque ainda morava no apê no 5º andar sem elevador. Quando Mateus fez 3 anos, nos mudamos para a casa. Mas aí faltava dinheiro. Nunca tivemos dinheiro sobrando para tentar o tratamento de novo. Isso me angustiava. Minha meta era sempre esta. A cada mês, a espera do milagre. Mas nada.

Fim de 2011, as duas irmãs grávidas. Eu surtei (já expliquei isso há uns posts atrás). No meio do primeiro semestre, duas super amigas grávidas. Uma outra amiga tentando também, eu enfiei na cabeça que conseguiria engravidar sem fazer o tratamento. Gente, este foi o pior ano pra mim em relação às tentativas. Virou obsessão. Tomei chá de inhame, comprei termômetro, tomei linhaça dourada, tudo o que via na internet eu fazia. Passava dias no trabalho vagando na internet, no fórum. Encontrei meninas sonhadoras, como eu. Parecia, na minha cabeça, que eu nunca seria feliz sem meu positivo. Esse pensamento me angustiava, porque eu sabia que não era saudável. Chorei, pensei em desistir, mas não conseguia. Fui improdutiva no trabalho, minha vida se resumiu a saber sobre fertilidade, controlar sinais do meu corpo. Minha cabeça doía de tanto pensar.

De duas semanas pra cá, parece que alguma coisa mudou em mim. Antes disso, fui ao médico, que me passou exames, e depois de vê-los decidiu que era hora de induzir. Só que pra induzir, eu teria que fazer a histerossalpingografia, um exame de contraste no útero, pra ver se minhas trompas são pérvias. Eu dei um passo atrás. Definitivamente não me via correndo um risco, sentindo dor, em nome deste sonho. E o exame é só um passo, ainda tinha a indução.

Depois disso, aquele desejo ardente esfriou. Eu pensei seriamente em desistir. Tipo: Deus, eu não quero mais lutar. Se o Senhor quiser me dar outro filho, vai me dar sem tratamento. Já chega. Eu conversei sexta agora com uma amiga e ela não me disse nada demais, mas esta conversa me fez ouvir minha própria voz. Eu não me lembro de mim sem tentar ter filhos. Por quê? não sei. Talvez seja porque é difícil. Porque se eu fosse super fértil, se eu fosse "normal", estaria tomando anticoncepcional religiosamente com medo de engravidar.

Peguei um projeto de TCC da minha prima para ajudá-la e senti saudades de estudar. Eu ano passado tentei o mestrado e fiquei muito perto de passar. Meu projeto ficou parado este ano todinho porque eu já tinha decidido que, se não passasse, eu iria tentar engravidar. Mandei uma mensagem pra minha amiga e perguntei se ainda há seleção aberta. Estou pensando em tentar pra UNIRIO.

Depois da conversa com minha amiga, na sexta, eu tomei a decisão, mas ainda pedi a opinião do Alan. Ele me perguntou se eu não queria fazer o exame, eu disse que não. Que o problema não era o exame, mas o quanto eu me gastei por isso, e agora tudo isso não faz sentido pra mim. Ele disse: então deixa pra lá... eu nunca te cobrei nada, temos o Mateus, temos que curtir ele, vê-lo crescer. Eu disse que tinha pena do Mateus não ter irmãos. Ele lembrou sobre nosso sobrinho, o Gabriel, que não tem irmãos e é feliz. Decisão tomada.

De manhã, medi minha temperatura  por curiosidade: estava baixa. Quer dizer, nem sinal de ovulação. Era esta a resposta de que precisava. Orei a Deus, preparei no coração uma caixinha, embrulhei com papel de presente e coloquei nas mãos de Deus. Esta caixinha tem dentro o meu desejo de ter mais um filho. A entrega foi verdadeira. Neste dia  não alimentei o gráfico, não entrei no e-family. Ontem não medi. Penso no assunto, mas de outra forma. Não sou mais escrava. Sou livre.

Ontem, domingo, fomos à casa da minha mãe, e lá estava o Artur, meu sobrinho mais novo. Lindo, sorridente, levado, do alto dos seus 4 meses. Mateus, que sempre o ignorava solenemente, ou melhor, o repelia, assim como a Maitê, minha outra sobrinha de 7 meses, de repente me viu com o bebê no colo, pegou a chupeta do primo e me entregou. O elogiamos, como sempre, e desde então, ele resolveu dar atenção ao primo: tentou pegar no colo, empurrou o carrinho, dava brinquedos a ele. Parece-me que o Mateus sentiu minha decisão, e sentiu que eu seria enfim mãe dele, só dele enquanto só há ele. Ele se sentiu seguro. E eu, orgulhosa e emocionada.

Enfim, gente, é um pouco isso. Eu decidi não ser mais tentante. Vou voltar com o meu regulador hormonal, porque preciso menstruar todo mês para não pensar que estou grávida todos os meses. Vou viver a minha vida, com tudo o que eu tenho, que não é pouco. Trabalho, filho, marido, Igreja, família. E, de verdade, se Deus quiser me dar outro filho, ficarei muito feliz. E se Ele não quiser, serei igualmente feliz. Não vou mais medir TB, não vou mais entrar no fórum, não vou mais pesquisar chás e macetes para engravidar. Vou ser mulher. Isso é o que está no meu coração por enquanto. Vou fazer outros planos, sem pensar em gravidez. Obrigada a todos que torceram comigo. Obrigada a todas as que eu conheci por causa de ser tentante. Podemos continuar mantendo contato. Continuarei torcendo por todas.

Um beijo, fiquem com Deus!




Comentários

IseMello disse…
Aline, querida!

Chorei. Um pranto doído e sincero, de quem começa a entender uma série de coisas e a se perguntar tantas outras.

Seja feliz com a sua decisão, mas mais do que isso: seja feliz com a sua liberdade.

Mateus tem uma mãe mais que guerreira. Decidida. Livre. Forte.
Ise, é a primeira vez que eu tenho absoluta certeza de estar fazendo a coisa certa. Peça orientação a Deus e seja livre, seja qual for sua decisão. Beijos!
Unknown disse…
Estou do seu lado, qualquer que seja sua decisão! Você já tem seu tesouro, seu milagre. Deus sabe de todas as coisas e você será feliz do jeito que Ele quiser. Um beijo grandee viva, viva como tiver que viver, viva feliz para o milagre que Deus já te deu!
Mari disse…
Aline querida que emoção vc me deixou triste, feliz, contente, querendo ser decida e forte igual a vc. Vc é maravilhosa, guerreira, ótima mãe, amiga a felicidade és tu torço pelo seu sucesso pessoal e profissional, obrigada por todo carinho e dedicação a nós do fórum foi ótimo te conhecer. Deus esteja contigo e te faça feliz. Bjos Mari_ldj
Valeu, Mari, amei te conhecer também. Já te aceitei no face, mantenha contato, e me avisa quando teu milagrinho chegar! Bjão!
Nessatcs disse…
Aline..te entendo PERFEITAMENTE.
Pois tb me dediquei o ano todo a engravidar..muitoooos medicamentos..fiz tratamento desde o inicio do ano e nada.
Deus sabe o momento certo para tudo.
E vi q meu momento não e agora.
VOltei p o AC a 2 meses..e deixei de ser treinamente vai fazer uns 3 ou 4 meses. Eu me desgastei muito ocm isso..tudo girava em torno disso. Tenho um marido lindo q precisa mt da minha companhia..estamos saindo..passeando..e viajando. Estou estudando p concurso. E qro começar minha pós-graduação. E agora estamos pagando o consorcio do nosso carro. Tá vendo precisei levar um baque..pra perceber q tenho muitas coisas p fazer antes de engravidar.
E o melhor de tudo é q nossos maridos estão sempre ao nosso lado né? Seja feçiz e curta sua familia.

PS: TE ADD NO FACE

Beijos Vanessa Viegas
Oi, Nessa! pois é, estou surpresa com este novo sentimento. Porque não estou me enganando, é verdade mesmo. Só não quis tomar AC, porque, na verdade gostaria de ter mais um filho. Mas só quero se Deus mandar. Comecei hoje com o cicloprimogyna, ele não é AC mas faz a gente menstruar direitinho. E, como eu já tenho filho, acho que esta é a coisa certa a fazer. Não me arrependo de ter feito tratamento pra ter o Mateus. Mas hoje, não quero mais viver assim. Um beijo, já te aceitei no face.
Sabrina - binabello disse…
Aline, adorei te conhecer! Sempre achei um pouco assustador o seu desejo e a sua determinação em conseguir engravidar de novo, todas as técnicas que vc aplicava, mas como treinante, entendia o seu desejo, pois compartilhava dele.
Tento engravidar desde 2010 e sei como é doloroso o negativo todos os meses.
Mas sempre percebi o quâo obstinada vc era e cheguei certa vez a parar pra pensar se eu tb era assim e vi que sim, eu era!!! E percebi o quâo nocivo isto estava sendo pra minha vida, pro meu relacionamento!!!
Encontrei uma médica que me esclareceu os pontos e pingos nos iiis e decidi dar tempo ao tempo, assim como vc está fazendo agora!!!

Estou orgulhosa de vc, assim como, olhando por seu ponto de vista, sinto orgulhosa deim tbm, porque mais corajoso que enfrentar os obstáculos é saber a hora de parar, de jogar a toalha e de deixar a natureza decidir sozinha. Eu fiz isso, e vc está fazendo!!!

Estou torcendo pra que consiga passar no Mestrado e que seja muito feliz, pq vc queria um milagre, mas vc já tem um, então curta muito seu milagre pq sei que ele precisa muito de vc!!!


Um super beijo!!!
Obrigada, Bina! parecia que eu estava cega, sabe? Quanta coisa eu passei a enxergar depois da minha decisão! Sinto que foi necessário eu lutar pra ter o Mateus, mas agora eu sei que é hora de parar. E sim, somos muito corajosas de tomar esta decisão. Parabéns! Me conte quando seu milagre chegar, hein? Bjs

Postagens mais visitadas deste blog

Dois pesos, duas medidas

Blog de utilidade pública - Incompetência Istmo-cervical

Reforma, gripe e fim de ano.