Sobre o fim da greve

E agora? devo me envergonhar? Devo baixar a cabeça diante dos que, desde o início, desacreditaram do movimento? Devo desacreditar definitivamente da educação pública? Respondo a mim mesma que não. Sinto vontade de abandonar isso de uma vez. Estudar, fazer concurso e sair da educação. Na verdade, vou tentar sim, mas trabalhando do jeito que tenho que trabalhar (e com o salário praticamente congelado), e tendo filho, não tenho tempo suficiente. Mas enquanto eu estiver nessa carreira ingrata (pra não usar palavras ruins), vou lutar com as minhas armas.

Não tenho do que me envergonhar. Sempre trabalhei honestamente, sempre fui coerente. Esse ano foi a primeira vez que fiz greve. Será a última? não sei, tenho um ano pra pensar. Fiz greve porque faço parte dessa categoria e acredito que, mesmo não concordando com algumas coisas, tenho que lutar junto. E se entrei, fui até o final. Assumi o risco de ter metade do meu salário cortado, mesmo endividada até o pescoço. E vi milhares de colegas fazendo o mesmo. Não teria cara de entrar na greve e abandonar no meio. Acho injusto. Ou faço greve ou não faço. Fiz sim. Me preocupei? Claro! mas fui até o fim.

Acho leviano crucificar o SEPE sozinho agora, por um único motivo: O fim da greve foi votado, não foi? Maioria de votos. O motivo pelo qual o discurso ardoroso de ontem mudou pra desorganizado, envergonhado e cabisbaixo hoje só a diretoria pode explicar. Não sou ninguém pra julgar nem fazer acusações sem fundamentação. Queria ser um mosquitinho dentro daquela sala de audiência hoje cedo, mas não sou, por isso não posso afirmar nada.

Sinto como se meu peito estivesse sendo esmagado. Mas não vou me intimidar. Lutarei, mesmo que minha arma seja um canivete enfrentando um lança míssil. E como lutarei? sendo competente no meu trabalho. Sendo coerente com minhas falas. E não tendo rabo preso com ninguém. Parabéns aos colegas de luta, e espero que a indignação dos que não concordaram com o fim da greve não se resuma a tópicos de discussão no orkut. A cobrança deve ser maior e constante agora. Não tenhamos medo, protestemos, corramos às mídias, tiremos fotos. Se os profissionais de educação se calarem, as coisas só podem piorar. Avante!

Comentários

Não sou da direção do SEPE. Longe disso. Também acho que o que conquistamos foi muito inferior ao que merecemos. Mas o processo de luta não é feito em uma greve só, ele é longo e muito difícil. O fato de termos reposto a inflação e incorporado parte da gratificação é, sim, uma vitória. Quanto menor for o peso das gratificações no nosso salário, melhor. Não deixe a luta e não deixe de participar de greve sempre que necessário. Precisamos, sim, conquistar cada vez mais a comunidade e para isso, as reivindicações sobre condições de trabalho e estrutura das escolas tem que se tornar cada vez mais presentes. A nossa luta não pode começar (nem terminar) na data base.
Michel Souza disse…
Faço minhas as suas palavras. Mas, como fazemos parte de um coletivo, ainda que indignados, precisamos acatar (e defender a legitimidade) da decisão da maioria. Faz parte do jogo político.
Mas, justamente por essa indignação pelo fim, inconsistente talvez, da greve, é que é importante um movimento posterior, de professores da base, sem partido político ou diretoria do Sepe, onde haja a discussão das questões, ação junto à comunidade escolar, ao Sepe e ao poder público municipal, visando a melhora da educação em todos os sentidos.
Essa foi a proposta, que quase não conseguimos fazer ontem, apresentada pelo Prof. Guilherme e Eu (Michel), de formação do Coletivo de Ação Permanente dos Educadores da rede.
Queremos mantes a mobilização ao longo deste ano e do próximo, especialmente para lutar pela melhora das condições de trabalho, da infra-estrutura das escolas e pela conscientização da população sobre a questão da educação, principalmente devido às eleições que se aproximam.
A proposta foi lançada, vários colegas apontaram desejo de participação. Se mais alguém quiser participar, basta entrar em contato conosco através do meu e-mail: michelf.desouza@gmail.com.
Aline disse…
Aqui em Minas a situação é bem complicada. Fizemos greve no ano passado e este ano parece que faremos de novo. Sempre apoio mesmo não tendo muito resultados e até mesmo escutando os comentários dos alunos, muitos deles adultos, "Greve para quê, vcs ja deviam estar acostumados com esse salário".
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